Entre nós há barcos
e um mar imenso de solidão
de dor
de lágrimas
de penumbras que encheram dias
de sombras que amanheceram noites
Como onda rasa navegaste meu corpo
inauguraste o hino da vida
revolveste a praia
arrasaste o areal
e
partiste no solstício de Verão
Não percorremos as noites
Não amámos as manhãs
Não demos as mãos
Sentada em Setembro
despedi-me do Verão
No Inverno chorei
com a chuva
Em silêncio desci
todas as tempestades
morri todas as noites
renasci todas as manhãs
adormeci tardes de dor
embalei memórias de amor
Partiste antes, muito antes
no solstício de Verão
quando o princípio
estava longe do fim
Em mim ficou a geografia incerta do teu corpo
a memória breve do teu riso
o cheiro intenso de ti
a vida a pulsar em mim
Pedaços de lua clarearam as noites
risos de menino desataram silêncios
e perdoaram todas as lágrimas do mundo
Na memória
ouve-se o silêncio do tempo
No coração, a música suave
de uma canção de embalar
e um menino, o melhor de ti
a rir e
a chorar, a chorar
no solstício de Verão.
Isabel Simões